A nação brasileira, especialmente o povo gaúcho, pranteia a morte de mais de duas centenas de jovens estudantes que, na madrugada de 27 de janeiro deste ano, comemoravam em uma casa noturna a aprovação em diferentes exames vestibulares realizados em Santa Maria/ RS, cidade conhecida no sul do país por abrigar um centro universitário de excelência. Aqueles jovens celebravam a vida por triunfos e conquistas e encontraram a morte súbita e inclemente.
Por ter vivido na cidade uma quadra inesquecível de minha vida profissional, associo-me a imensa tristeza e desabafo ao colocar no papel a revolta e a perplexidade que me assaltam, em ser obrigado a ouvir pífias declarações de diversas “autoridades” e de ter de assistir a mais uma tragédia, entre tantas, que ocorrem em nosso país, consequência da maneira permissiva e negligente em nossa cultura, de encaminhar e resolver questões substantivas, com a irresponsabilidade e a omissão do nosso conhecido “jeitinho” .
Fica no ar, entretanto, uma pergunta que precisa ser respondida: Quem inspecionou o local, e autorizou o funcionamento daquela arapuca apelidada de boate? Não precisa ser especialista nem técnico experiente, para verificar a inadequação do indigitado local em abrigar uma pequena multidão - de mil ou mil e quinhentos indivíduos- numa área restrita com somente uma porta de acesso. Quem forneceu o ALVARÁ de funcionamento? Pelo que se ouviu, “tudo estava de acordo com as leis e as normas em vigor e será devidamente apurado”.
As ridículas declarações dos integrantes da cadeia de responsáveis (diretos e indiretos) tangenciam a ironia e o sarcasmo: a Prefeitura (fiscais e o setor de engenharia), o Corpo de Bombeiros e os outros órgãos que tinham por tarefa a liberação do local, fornecem capengas explicações, na tentativa de justificar o injustificável.
A nossa indignação se potencializa quando tomamos conhecimento que:
Infelizmente, há longos anos, a nação convive com essa corrente perversa constituída de elos importantes, mas lastimavelmente frágeis. Em todas as esferas do poder (Executivo, Legislativo ou Judiciário), e nos diferentes âmbitos da federação (Federal, Estadual ou Municipal), constatamos, com irritante frequência, desvios de conduta, omissões e negligência de autoridades, revelando, assim, o baixo nível e a evidente falta de compromisso com princípios, e com a solidez ética e cultural de nossa gente.
Enquanto isso, como sói acontecer e pelas declarações das nossas autoridades, as investigações caminham na busca de um “ Bode Expiatório” palatável, capaz de assumir a culpa por toda essa lastimável tragédia.
“Se a porta foi arrombada, coloquemos uma tranca de ferro”.